Como uma análise detalhada de desvios pode melhorar o resultado de uma obra?
- Gleyson Pereira Barreto

- 20 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de mar. de 2019

Hoje em dia, os projetos possuem orçamentos e cronogramas cada vez mais enxutos e apertados. Assim sendo, o risco de estouro nos custos e prazos é muito alto. Pequenos desvios de produção e produtividade podem acarretar em grandes prejuízos no projeto.
O objetivo desse artigo é o detalhamento dos desvios (usaremos para tal uma obra de rodovia fictícia) e a análise das suas causas-raízes para que possamos tomar decisões assertivas e em tempo hábil e, assim, evitar que os projetos terminem com prejuízo.
Contrato
O projeto piloto citado é um trecho de rodovia de 15 km, localizada no estado de São Paulo. O contrato é de R$ 26.000.000,00, aproximadamente. Para facilitar nossa análise, consideraremos três tipos de serviço: OAC (Obras de Arte Corrente) e Drenagem (3.355 m de bueiros), Pavimentação (28.887 ton de asfalto) e terraplenagem (438.500 m³ de escavação).

Cronograma Físico e Financeiro
O cronograma de execução está detalhado abaixo e a obra, de acordo com o mesmo, inicia-se no mês de março de 2015 e termina em novembro de 2015.
Importante frisar que, para obras rodoviárias, uma variável muito importante é o período de chuvas.
Nesse caso, uma vez que a obra é no estado de São Paulo, o período de chuvas se dá de novembro a março. Assim sendo, caso haja uma atraso de execução de apenas um mês, isso incorrerá em um atraso de no mínimo 5 a 6 meses no projeto.

Acompanhamento do Contrato
Ao acompanhar o contrato, percebe-se que não houve grandes desvios nos 3 primeiros meses, porém, no 4º mês de obra (no mês de junho/15), descobrimos o primeiro grande desvio, conforme figura abaixo:

Valor previsto mensal .......R$ 5.605.286,45
Valor agregado mensal .....R$ 3.957.781,97
Desvio .................................R$ 1.647.504,48 (29.4% menor que o previsto)
Esse desvio é bem significativo e deverá ser analisado nos mínimos detalhes, para que o mesmo não volte a ocorrer. Para fazermos o primeiro detalhamento, analisaremos os grupos de serviços onde ocorrem os maiores desvios.

Ao fazer a análise, chegamos à conclusão que 100% do desvio ocorre no serviço de pavimentação.
Observa-se os seguintes desvios de faturamento na pavimentação:
Faturamento previsto mensal ..... R$ 3.900.000,00
Faturamento real mensal ............ R$ 2.240.000,00
Desvio ........................................... R$ 1.660.000,00 (42.6% menor que o previsto)
Esse primeiro detalhamento é insuficiente para uma tomada de decisão assertiva.
Inicialmente, pode-se deduzir que dobrar o número de equipamentos de pavimentação seria uma forma de recuperar esse desvio, uma vez que não conseguimos atingir a produção prevista (isso pode acarretar em um aumento excessivo de custos).
Porém, com um maior detalhamento, consegue-se enxergar os dias em que isso ocorreu e as causas-raízes desse problema.
Iniciaremos o próximo passo entendendo em que dias do mês a produção não foi atingida.

Dos 22 dias que seriam trabalháveis, em 11 dias atingiu-se uma produção próxima à prevista com os equipamentos alocados, ou seja, conseguiu-se trabalhar de forma efetiva. Inclusive, no dia 5 de junho, a produção real atingiu 395 ton (mais que 10% acima da prevista).
Nos 11 dias restantes (dias em vermelho no gráfico acima), porém, as equipes trabalharam de forma mais improdutiva.
É necessário o entendimento detalhado do que efetivamente aconteceu nesses dias, ou seja, as causas-raízes do problema de falta de produção e produtividade.
Detalhamento das Causas-raízes
Para tal detalhamento, levantamos todas as interferências que ocorreram nos dias marcados em vermelho e as analisamos detalhadamente.

Observamos que, durante esses 11 dias, ocorreram 71h de interferências.
Analisando por período:
50h ocorreram no período da manhã (70.5%);
21h ocorreram no período da tarde (29.5%).
Analisando por motivo:
47h ocorreram por falta de material (66.2%);
18h ocorreram por falta de liberação de frente (25.3%);
6h por chuva (8.5%).
Conclusão
Em uma análise mais aprofundada, percebe-se que, detalhando o motivo Falta de material, o mesmo ocorre 85.1% pela manhã (ver gráfico acima).
Isso significa, por algum motivo logístico ou de falta de estoque de material na Usina de Asfalto, o material asfáltico está chegando muito atrasado na frente de serviço.
Conclui-se que ao resolver o problema falta de material, a maioria dos desvios deixará de ocorrer.


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